Estranho como algumas pessoas marcam a gente.
Ele me marcou.
Vira e mexe sinto a presença dele. Meio que ouço sua gargalhada até...
Fecho os olhos e posso ver ele mexendo naquele cabelo preto e liso que o fazia parecer meio indígena.
Fico imaginando o quanto da vida dele mudou desde que nos abraçamos pela última vez. Pelo que ouvi dizer, mudou muita coisa e hoje ele está mais feliz do que nunca.
As vezes me pego me nutrindo do que acho dele por aí. Os recados soltos pela minha agenda me fazem gargalhar.
Um suspiro seguido de um "ai que saudade d'ocê".
Tento acompanhar a vida dele pelo que ele deixa escapar por ai, uma foto numa entrevista, uma missão concluída com sucesso.
Se soubesse que aquele abraço seria o último que daríamos, teria demorado mais. Teria gravado um audio com a voz dele, teria tirado uma foto nossa, revelado e colocado na minha caixa do coração.
Cada detalhe fez dele unico, incomparável e inesquecível.
Sinto saudades do sorriso seguido de um 'boa tarde', daquela voz que tantas vezes me fez arrepiar.
É um pouco de apego, eu sei. A lei do desapegar não funcionou muito bem com ele.
Difícil mesmo aceitar que naquele último abraço deixei ele e deixei junto com ele todo o amor do mundo.
Imagino que hoje ele esteja feliz e realizado. Ainda me recordo das vezes em que compartilhou comigo o desejo de construir uma família e que só a partir dali começaria a sua história.
Engraçado como ainda encontro ele nos meus devaneios.
Depois dele tudo mudou. As pessoas se tornaram apenas pessoas, os sorrisos são apenas sorrisos, as gargalhadas não me arrancam gargalhadas.
Meu chocolate favorito é o nosso e o meu escritor também.
Ele deixou vazos quebrados, gavetas abertas, frases sem um ponto final.
Um ultimo abraço de 'a gente se vê, se cuida, vou sentir saudades...'.
Sinto saudades. Sinto amor. Todos os dias.
Sinto saudades.
A
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